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quinta-feira, 30 de abril de 2020

Leituras de um Figurino

Olá Leitoras/es!

Espero que vocês estejam bem, na medida do possível, diante do cenário caótico em que a quarentena nos coloca.

Neste post desse meu cantinho dedicado à moda, trago uma breve análise sobre as leituras que podemos fazer a partir do figurino, pois ele traz informações importantes sobre a personagem e que muitas vezes, passam batido aos olhos do público.

Escolhi para essa primeira análise uma personagem que gosto muito, a Daenerys Targaryen, a "Mãe dos Dragões" da série Guerra dos Tronos. Vejamos como ela é apresentada no começo da série:

 

Coberta parcamente, com tecidos vaporosos de cores delicadas e sempre com uma expressão de apreensão, medo e fragilidade, Daenerys é apresentada como uma jovem de um reino acabado, que é praticamente vendida, pelo próprio irmão, ao animalesco e truculento Khal Drogo, líder dos Dothraki, tribo guerreira e nômade. 

A personagem avança de série em série, aprendendo a dominar e a se impor, e a medida em que ela vai alcançando diferentes níveis de empoderamento e importância, seu figurino vai mudando drasticamente. 





Ao entrar voluntariamente numa pira, a personagem "renasce", nua, chamuscada mas coberta por dragões. A partir daí, embora suas roupas, ainda que continuem claras, vão ganhando texturas que ora revelam sensualidade, ora revelam poder e o público vai sentindo que uma nova Danearys está chegando à superfície.

A trama avança, Danearys vai assumindo a persona de "Mãe dos Dragões", vai aprendendo a comandar tropas cada vez maiores e as suas roupas vão ganhando novas nuances: texturas cada vez mais agressivas, imponência e escuridão. A identidade que Danearys vai adquirindo com o tempo e a que cria para si mesma, vai sendo realçada nas roupas que ela usa.





As texturas que a roupa de Danearys vai ganhando
se relacionam às escamas
de seus dragões...

...e a sangue, com tons cada vez mais escuros.
As texturas aqui, lembram garras - Danearys está em guerra!



Aqui já se percebe que, além de escuridão,
a roupa ganhou peso. E o cinturão de metal maciço,
carrega a imagem de um dragão e peças que lembram ossos,
o que confere mais peso ainda ao visual.



Até os cabelos de Danearys se modificam: se antes eram soltos e descuidados, agora ganham tranças elaboradas e apropriadas à versão guerreira que ela se tornou. 













Em sua cena final, Danearys, parecendo muito perturbada, usa uma armadura totalmente fechada e aparentemente impermeabilizada, mas reparem que em seu pescoço e ombro, há um tecido espesso, cuja cor remete a sangue.
É o prenúncio do seu destino? 

Se você não captou essas nuances e mensagens  no figurino da personagem, ao longo da série, experimente rever as cenas e perceber como ele esteve sempre sinalizando os rumos internos e externos de Danearys. 

Sem dúvida, a personagem Danearys nos dá uma excelente oportunidade de perceber como os figurinos conseguem expressar mensagens, não só em relação à própria personagem, mas ao público, revelando traços de sua personalidade, trajetória e muitas vezes, finais.

Não é a toa que temos uma categoria do Oscar para Figurino e o que ele exige das equipes de produção, não só de TV, mas teatro e cinema é muita pesquisa e capacidade de comunicação, mas isso é tema para outro post!

Até a próxima! 


Beijos, 

Mariana Mendes 💖





P.S. O conteúdo deste post, exceto pelas fotos, que foram captadas do Google, são de autoria particular e portanto, pede o devido crédito no caso dos compartilhamentos. O Toca agradece o cuidado.   



  








quinta-feira, 23 de abril de 2020

Dica Literária: As Aventuras da BLITZ!!!

Olá leitores deste Brasil ainda enclausurado!

Esse post é uma mistura de dica literária com Sintoniza!, porque trago, para o seu deleite, a história escrita de uma das bandas mais legais, criativas e duradouras do Brasil: Banda Blitz! 

O grupo foi formado na cidade do Rio de Janeiro em 1982, e originalmente composto por Evandro Mesquita (vocalista principal e guitarrista), Fernanda Abreu (backing vocal), Marcia Bulcão (backing vocal), Ricardo Barreto (guitarrista), Antônio Pedro Fortuna (baixista), Billy Forghieri (tecladista) e Lobão (que ficava na batera, mas que saiu da banda antes do estouro, para ficar explicado a sua ausência nas fotos mais famosas).

Primeiros shows: na cara e na coragem!
(Fonte: Google - As Aventuras da Blitz)

Com uma pegada jovem e trasbordando energia e criatividade, a Blitz foi uma das bandas que iniciaram a Era de Ouro do Rock Brasileiro. Ah, leitoresinhos...vocês precisavam ter visto essa galera se apresentando no Rock'n Rio de 1985!

Com músicas que transitavam entre relacionamentos e problemas cotidianos, sempre com muito humor e uma linguagem totalmente nova, a Blitz esbanjava  carisma, primeiramente na pessoa do seu vocalista, o eterno garoto, Evandro Mesquita. Mesquita era a personificação do garotão carioca, descolado e engraçado, que não estressa com absolutamente nada. As meninas que formavam o backing vocal eram as mais cool do cenário! Seus figurinos eram louquíssimos, suas maquiagens, a cara dos anos 1980 e os cabelos, o que havia de mais moderno nesse tempo.

Se tem uma galera que merece ser figurar em qualquer pesquisa obrigatória, seja de moda, seja de música ou antropologia social, é a Blitz. 
A formação que ganhou o Brasil! (Fonte Revista Crescer Notícias via Google) 

As meninas da Blitz, Márcia Bulcão e Fernanda Abreu,
no Rock'n Rio de 1985 (Fonte Google) 


Além de figurar nos principais programas de TV na época, a Blitz participou de várias trilhas sonoras de novelas da rede Globo (e Evandro Mesquita, que na juventude figurou no teatro com Regina Casé, Luís Fernando Guimarães e  Patrícia Travassos, por exemplo, acabou enveredando como ator em novelas e programas especiais, como A Grande Família). O sucesso foi tal que partes da letra da banda acabaram conquistando outros níveis de popularidade, como a famosa "Calma, Bete, Calma", que até hoje é usada em situações que extrapolam o ambiente musical. 



O livro As Aventuras da BLITZ, de autoria de Rodrigo Rodrigues é, antes de mais nada, um documentário histórico, especialmente para fãs e pesquisadores, com uma diagramação à altura da criatividade da Blitz e que vai trazer a história, os caminhos dos integrantes antes, durante e depois do sucesso, os efeitos da Blitz na música brasileira, os (vários) desafios que eles enfrentaram e - o que considero mais importante, o frescor de juventude e de uma espontaneidade muito saudável e sempre positiva, que marcou a cara da banda (e que acho que desapareceu depois dos anos 2000). Então, é uma leitura que agrada quem os conheceu e quem ainda não os conhece. Há muito material da banda pelo YouTube, então, agora é com você que, espero do fundo do coração, saiba amar a Blitz, porque ela merece! 








Beijos, 

Mariana Mendes 💖


quinta-feira, 16 de abril de 2020

Blog do Toca: Série A Saga (real) do autor Independente – Parte II


Olá leitores!

Continuando o papo sobre a minha experiência no louco universo da escrita, em modo independente, vou pular a parte sobre a escrita em si (falaremos desse processo no futuro), que é vasta e rica de observações e passar diretamente para a definição do meio de publicação.

O escritor pode contar com um editor para compreender as partes do seu livro e como elas são feitas e organizadas – até porque há partes que só um editor deve fazer.  O papel do editor é fundamental, não só para uma leitura crítica do seu trabalho, mas para pensar nas melhores estratégias de mercado para o seu livro.

Tenha em mente que você vai ter que se debruçar para definir o corpo físico do livro, definir estratégias de venda e divulgação e, no caso de lançamento por editoras pequenas ou no modo independente, como o livro será distribuído. 

Seja uma editora de menor porte, seja publicação independente, esteja pronto para desembolsar. Entre resmas de papel e tinta para a sua impressora, serviços de editoração, revisão, diagramação, arte e arte de capa, impressão, brindes e divulgação (onde entram serviços de Correios e papelaria, por exemplo), você vai precisar de um fôlego considerável – e é meu dever lhe informar que o retorno tem zero de garantia. No momento em que você põe um livro na praça, como autor independente, vai chover gente desejando ler o seu trabalho, mas poucos vão se dispor a pagar por ele. E é aí que muito autor comete o erro de distribuir o seu livro. Vamos falar sobre isso no futuro.

Nesta segunda parte do nosso papo sincero sobre a saga (real) do autor independente, vamos nos deter sobre os primeiros profissionais que um autor vai precisar contratar ou se submeter: um editor e/ou produtor editorial e um revisor. 

Findada a sua história, você vai ter impresso o trabalho inteiro umas duas ou três vezes para fazer correções. A partir daí, será necessário confiar a sua cria a um editor ou produtor editorial. O editor é a cabeça pensante da editora; o produtor editorial está subordinado ao editor e vai trabalhar com o escritor (o que não significa que editores não possam trabalha como produtores editoriais), no processo de lapidação até que o texto chegue à sua forma final (que será levada ao leitor).

Nesse processo, o texto passará por várias etapas que visam apontar incoerências, erros de pesquisa, verificar a adequação da linguagem, a caracterização das personagens, coisas que, enfim, fragilizam a lógica e podem emperrar a leitura do seu trabalho. Se você está sob a direção de uma editora, vai precisar se adequar ao tom dado pelo editor (que sempre vai alinhar os originais com a posição estratégica da casa). Tudo vai ser pensado para o público-alvo da editora.

O editor vai ajudar você a resolver dúvidas maiores e impactantes, que podem interferir na imagem da editora e do autor; também vai trabalhar com o autor sobre a redação e preparação do livro, definindo o formato editoral que melhor se adequa ao projeto, a existência ou não de anexos, orelhas, índices, aprovar capas e textos de contracapa, etc. É um trabalho minucioso que pode exigir tempo e é muito importante que o autor tenha serenidade e foco para as devolutivas do seu editor, porque depois da avaliação dele, seu texto vai cair na rodinha do hamster! Então, esse é o momento crucial do nascimento do seu livro.  

Aconselho ouvir atentamente as críticas que o seu editor tem, sem tentar justificar o que ele está apontando. Tive um professor de Psicologia que me disse uma vez: “Se você precisar explicar o que escreveu, o texto não está bem escrito, não está finalizado. Então, volte a trabalhar nele, até que a sua ideia esteja plenamente compreensível e limpa.”.

Após fazer as devidas correções apontadas pelo editor (e não é raro que um texto passe duas, cinco, sete vezes pela leitura crítica até que tudo esteja tinindo, o seu texto será encaminhado ao revisor. Em editoras maiores, há mais profissionais envolvidos, com funções diferentes e maior detalhamento na preparação, mas estamos falando da realidade da produção independente e/ou no trabalho de editoras pequenas, então, normalmente, o texto vai passar por um quadro bem resumido de profissionais.

Numa editora de médio/grande porte, o texto passaria para um preparador (que é um profissional que fica responsável por fazer as alterações e ajustes definidos pelo editor), mas quando o assunto é independente, o texto segue direto para o revisor de livro, que vai fazer um pente fino no texto para encontrar erros ortográficos, gramaticais, além de conferir a padronização e a paginação.

Assim, na realidade do trabalho independente ou de pequeno porte, o editor, o preparador e o revisor, não raramente têm as funções se fundindo conforme o orçamento do autor. Não significa dizer que o trabalho seja barato – não é, mas acaba envolvendo menos processos.

Na III parte da Saga (Real) do Autor Independente, você vai conferir o processo de diagramação, impressão e divulgação do livro, assim como algumas decisões e cuidados que o autor independente vai precisar tomar.

Até a próxima!

Mariana Mendes 💖

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Mensagem para Você ou Kethleen Kelly versus Amazon?

Olá leitores!

Ontem, reassisti ao filme Mensagem para Você e fiquei surpresa ao enxergar as críticas que esse filme contém e que me passaram batidas até então. É sobre essas críticas que escrevo por aqui hoje. 

Kethleen Kelly herdou a charmosa "Loja da Esquina" de sua mãe, Cecília, e como podemos ver, é uma pequena e adorável livraria especializada em livros infantis, onde se pode encontrar livros feitos a mão e onde a proprietária se transforma em uma encantadora contadora de histórias nos finais de tarde. A livraria de Kethleen é um sucesso e seus clientes, adultos e crianças, se relacionam com ela de modo pessoal. 

Confesso que meu coração livreiro suspira ardentemente por cada pedaço da vida de Kethleen: a livraria perfeita e seu público adorável, o apartamento simples e de cores suaves, o namorado lindo que adora máquinas de escrever, o bairro de Uper West Side, o canto nova-iorquino da arte, do cozy e do hygge! O que pode ser mais perfeito? 




No entanto, diante da Loja da Esquina e aos olhos de Kethleen (e de seu público), o futuro se impõe, implacável. Uma Fox Books, a fictícia mega store livreira com amplos ambientes, poltronas fofas, descontos agressivos e seu cappuccino, se prepara para abrir as portas. 

O proprietário, Joe Fox, é filho e neto de empresários milionários. Para homens como eles, a questão não é dinheiro em si, mas a disputa. Na cena em que eles falam sobre concorrentes indo à falência, tem-se a impressão de que eles poderiam estar falando sobre uma corrida de cavalos com a mesma descontração. Joe é um connoisseur de pessoas e afirma, sem pestanejar: "...vão nos odiar no começo, mas vamos conquistá-los no final". Em seguida, ele repete a receita para o seu sucesso: vendendo livros baratos e estimulantes, aprovados por lei. Lhe lembra alguma outra mega store livreira da vida real? Continuemos.

Sem constrangimento, Joe Fox quer a frase "O Fim da Civilização como Você a Conhece" precedendo o anúncio da abertura da loja. Fox é o futuro porque é assim que o futuro se apresenta: ele determina que a vida que você conhece está com a validade vencida e você que lute para se adaptar. 

E enquanto o seu mundinho vem abaixo, a doce Kethleen suspira por um desconhecido com quem mantém, em segredo, correspondências românticas (e muito inocentes) por e-mail.  

Os três funcionários de Kethleen são uma tia idosa e dois jovens que são o retrato da apatia. No entanto, é por Kethleen que sua tia Birdie sai de casa e se ocupa, é por ela que seus funcionários levam a vida que desejam e é através dela que as crianças de Uper Side West mantém um lugar de fantasia e imaginação, onde aprendem a como usar um lenço de verdade. A loja em si é como um baú do tesouro, para clientes e para a própria Kethleen. 

Ao encarar a abertura de uma Fox Books diante da sua lojinha, Kethleen simplesmente diz: "Não vai nos afetar em nada. É grande, impessoal, tem estoque demais e funcionários ignorantes". Mesmo quando seu vendedor a lembra que eles dão descontos, ela não se dá por vencida, pois crê piamente que o seu bom atendimento supera o poder dos descontos. E fecha o diálogo com um pensamento inacreditavelmente ingênuo, dizendo que aquele será o "bairro das livrarias"! Claramente Kethleen não percebe o futuro. Ela acredita que o que a Fox Bookstore não tiver, ela terá, mas não compreende que eles terão TUDO o que ela não tem e que isso significa, em outras palavras, fa-lên-ci-a. 

Kethleen vende livros, experiências e memórias, mas não é uma empresária (não uma com gosto de sangue, como Joe Fox, por exemplo). Não é a toa que seu namorado jornalista a descreve como "um junco solitário elevando-se e balançando corajosamente nas areias corruptas do comércio". Bingo. 

Kethleen oferece o que tem: uma vida pequena mas valiosa, com bons amigos e sua doçura consegue, de fato, quebrar a acidez de Joe Fox, que começa a entrar em crise ao se dar conta dos conceitos que carrega dentro de si. 

Falando em Joe Fox, começamos a entender um pouco dessa criatura em crise quando damos uma boa olhada em sua vida pessoal: sua família é um novelo genealógico e Joe Fox é uma pessoa criada para vencer, não para se emocionar. Apesar de ser empresário do ramo livreiro, não se vê livros em sua casa (coisa que o apê de Kethleen mostra, ostensivamente) e parece apenas suportar a namorada, uma jovem editora que parece uma versão americana de Narcisa Tamborindeguy. 



Há um diálogo importante entre Joe e seu pai, enfadado e separado pela enésima vez, que parece, finalmente, ligar o sinal amarelo na cabeça do rapaz. 

Fox Pai: "...Só preciso encontrar outra pessoa."

Joe: "É fácil achar a única pessoa no mundo que enche seu coração de alegria."

Fox Pai: "Não seja ridículo. Nunca encontrei alguém que correspondesse a essa descrição. Você já?"

É esse trecho do diálogo entre pai e filho que entendemos o motivo pelo qual o guia moral de Joe Fox seja o filme O Poderoso Chefão (que é uma obra-prima mas como guia moral fica puxado) e tratem da falência dos concorrentes com total indiferença.

Pessoas como os Fox não têm consideração com nada nem com ninguém, muito menos com o negócio alheio e seus significados e símbolos afetivos. Afeto não é um idioma que essas pessoas compreendem. Para um empresário como Fox, tanto faz ser dono de livraria ou um açougue. A questão é a disputa, é ganhar o jogo. É a única coisa que os faz sentir vivos e lhes dá sentido. 





Esta cena é muito boa. Joe leva sua tia e seu irmão para passear e ocasionalmente, encontram a "Loja da Esquina", bem na hora em que Kethleen está contando uma história para os seus pequenos clientes. Ali temos outro sinal da lição que Joe vai aprender com Kethleen, quando ele leva uma alfinetada de um vendedor que lhe explica que o livro que têm em mãos tem colagens feitas à mão. Joe pergunta "Por isso ele custa tanto?" e o rapaz prontamente lhe responde "Por isso ele vale tanto".  

Logo depois, Kethleen conhece os Fox e o diálogo que se segue deixa Joe boquiaberto. Kethleen explica que sua mãe fora a proprietária anterior e que ela não vendia livros, simplesmente, mas ajudava as pessoas a se tornarem quem elas iriam ser depois. 

"Quando uma criança lê um livro, ele se torna parte da sua identidade de uma maneira que nenhuma outra leitura na vida se tornará".

Se Joe Fox tivesse um pingo de decência, teria caído desmaiado imediatamente! Ao final da visita àquele paraíso livreiro, onde o clima de Natal parece ter se instalado ali permanentemente, Joe repara na charmosa sacolinha de tecido que acompanha as suas compras - e na cena seguinte, de abertura da Fox Bookstore, vermos as mesmas sacolinhas, com sua logomarca. 

E assim, o inevitável acontece: em uma semana, a Livraria da Esquina deixa de ganhar 1.200,00 dólares e acaba fechando as portas. 

Mas o que mais chama a atenção aqui é a solidão de Kethleen. 

Seus funcionários começam a debandar, sua tia idosa encara a coisa toda sem apego nenhum e seu namorado resolve que esse momento é perfeito para romper com ela e flertar com uma âncora de tv. Kethleen sofre por que sente que é a única a lamentar de fato pelo fechamento da Loja da Esquina. Ela é a última a sair. E o expectador a acompanha com o coração pequenino, pois a cena daquele paraíso, outrora coloridinho e cheio de clientes risonhos, agora vazio e às escuras é de partir do coração. 


Joe fica perplexo ao saber que aquela livraria insignificante tenha tido uma proprietária tão encantadora como Cecília Kelly, mãe da igualmente encantadora Kethleen, e que seus clientes se lembrem dela e agora levam os próprios filhos. Cecília e Kethleen emocionam as pessoas. 

Já imaginaram alguém como Joe Fox parando suas atividades no fim da tarde para contar historinhas aos seus pequenos clientes? Fox é o típico empresário que atravessa a própria loja rumo ao seu escritório sem olhar para os lados, sem curiosidade ou emoção, sem olhar nos olhos de um único cliente, sem cumprimentar aqueles que fideliza. E é por isso que, quando Kethleen consegue dizer um desaforo à altura da perturbação que Joe lhe causa ("Eu vendo livros; você não passa de um terno!"), ele se cala. Numa pequena frase, Kethleen define Joe Fox. 

A constatação de Joe Fox sobre como ele está conduzindo a sua vida, o manda direto à porta de Kethleen, apaixonado e arrependido e o resto é fechamento de um filme romântico: ela vai ter que perdoar o mocinho pelo pequeno deslize de ter levado seu negócio maravilhoso à falência. 

Quem diria que um filme romântico e singelo daria tanto o que pensar, leitores? 

Do alto da minha ainda incipiente experiência no universo louco da literatura, onde a arte se esquece do business frequentemente e paga alto por isso, vejo Mensagem para Você com outros olhos agora. O triste cenário das livrarias encantadoras que fecham as portas diante de mega stores impersonalizadas mas com descontos e mimos também se é percebido em outras searas, como na moda, por exemplo. O fast fashion é um conceito que, para todos os efeitos, atende da forma mais democrática possível os anseios dos consumidores. No entanto, no subterrâneo mundo de fabricação em massa, vemos as mega stores fashionistas mais ocupadas em descobrir novos pontos de trabalho escravo pelo mundo e lustrando sua blindagem jurídica contra fiscalizações "maldosas" do que pensando na Moda, de fato. 

Nos sentimos tristes quando uma livraria em nossa cidade fecha as portas mas não nos sentimos constrangidos por irmos até lá, fotografar as capas dos livros desejados e depois comprá-los numa Fox Bookstore. 

Será que o problema é só falta de grana? Ou nos relacionamos melhor com a mega store porque estamos ficando mais confortáveis com sua ausência de significados? 

Isso é um caso a se pensar. 

Beijos, 


Mariana Mendes 💖