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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Entrevista com Victor Almeida, do Geek Freak

Olá Leitores! Se é pra chegar chegando, vamos começar a nossa série de entrevistas com um booktuber que adoramos, o Victor Almeida, do canal Geek Freak.


Victor é paranaense, tem 26 anos, é formado em Marketing e é um booktuber dos melhores - seu canal conta atualmente com 110.000 inscritos que compartilham a paixão dos livros com ele. O Geek Freak é o canal onde o Victor se dedica principalmente à literatura, misturada à cultura pop de maneira geral. Bora pra entrevista! 💥

Victor, qual era o cenário do Booktube quando você começou o canal Geek Freak e o que te motivou criá-lo?

Victor: Eu costumava acompanhar vários canais sobre videogames e tecnologia, até que um dia o Youtube acabou me recomendando um vídeo literário. Cliquei, por pura curiosidade, achei muito interessante, e passei a ler desenfreadamente a partir daí. Eu já tinha uma paixão pela produção de vídeos, e trabalhava com isso, então resolvi arriscar e criar o meu próprio canal. Na época não existiam muitos canais, e a variedade era mínima. Isso acabou crescendo exponencialmente através dos anos, a ponto de hoje em dia existir mais de 300 canais.


Como você avalia a influência do booktuber sobre vendas de livros que são expostos no canal? Você acha que isso tem reflexo na relação com as editoras?

Victor: Vejo que o booktuber tem o poder de tirar do livro aquele estigma de algo maçante, chato e obrigatório, e transformar esse universo em uma experiência de compartilhamento e entretenimento. Normalmente trazemos uma bagagem da escola, vendo a leitura como o oposto de uma atividade prazerosa. Através dos vídeos, a linguagem acaba sendo mais descontraída, jovem e acessível. Você se identifica com quem está assistindo, com a personalidade dos booktubers que acompanha, e isso certamente acaba influenciando diretamente as vendas. Apesar de, ao meu ver, ainda estarmos no início desse trabalho, muitas editoras já estão despertando o interesse em trabalhar com a gente, criando departamentos e contratando pessoas exclusivas para esse contato.

Vish! Você leu e não gostou. Qual o caminho para uma crítica negativa bem feita? 

Victor: Procuro sempre anotar absolutamente tudo o que sinto durante uma leitura (uso um aplicativo de notas no celular). Reflito sobre alguns pontos durante essas anotações. Acho de vital importância ser sincero e mostrar ao público a minha verdadeira experiência com aquele livro. Por isso, ao apresentar ele no canal, mesmo que não tenha gostado, tudo o que pensei, anotei, refleti, acaba indo para o roteiro. Falo, sim, as coisas que gostei, mas também deixo bem claro todos os problemas que tive com ele, independente se foi apenas um, ou vários.


Considerando a sua experiência, qual é o melhor e o pior na vida de um booktuber?

Victor: É muito gostoso ter com quem conversar sobre as suas leituras. Surtar sobre aquele livro que você achou maravilhoso e também descobrir outros livros com os quais surtar. Eu amo a interação, amo os amigos que fiz através disso, e estou cada dia mais apaixonado pelo nicho. Sempre produzo vídeos com aquela ansiedade de "como será o feedback?", ou "será que vão gostar?", e é uma adrenalina que me motiva a buscar coisas novas e diferentes pro canal. Se eu tivesse que escolher algo como um ponto negativo, seria a pressão que o booktube acaba colocando, não só em nós, produtores de conteúdo, mas também no pessoal que assiste, de desenvolver um hábito de leitura constante e ler o máximo de livros que conseguir por mês, atingindo as "metas" individuais. Não somos máquinas de leitura, e estamos sujeitos a milhares de variantes no nosso dia-a-dia. O hábito, afinal, é apenas um hobbie, e não deve se tornar uma obrigação.


Você escreve? Se sim, pretende publicar? Se não, tem vontade de escrever, um dia?
Victor: Gosto de escrever e tenho ideias que ainda não desenvolvi, guardadas aqui até o momento certo. Não sei se estou pronto para pular de cabeça, e se tenho a capacidade, mas com certeza pretendo tentar um dia.


Na sua opinião, um escritor precisa ser, necessariamente, um bom leitor?
Victor: Sem dúvidas. Acho inadmissível a ideia de querer escrever e não ter o hábito de ler. É como um atleta que quer ganhar medalhas, mas não pratica. A leitura é a "prática" do leitor, em conjunto com o exercício diário da escrita. É um alimento necessário para o cérebro — como se espera produzir algo sem conhecer e consumir outros antes?

(Demos um high five imaginário com o Victor agora; sigamos!)


Nos últimos cinco anos, você apresentou vários livros incríveis no canal Geek Freak. Mas  queremos saber o seu Top 10 dentre os livros lidos durante esse período!


Victor: Uau, essa é difícil, hahaha! Vamos lá, algumas indicações:

- Os Últimos Dias da Noite
- It, A Coisa
- Misborn: O Império Final
- As Cavernas de Aço
- Dois Irmãos
- Matéria Escura
- O Rei Demônio
- Ligações
- A Cidade Murada
- O Sol é Para Todos


Em Maio de 2016, o Estadão publicou que 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro. Na sua visão, booktubers, bookstagramers e blogueiros literários podem ajudar a melhorar esse cenário?

Victor: Com certeza. É comum receber comentários de pessoas dizendo "comecei a ler por sua causa", ou "não lia tanto, mas agora que acompanho seu canal, passei a ler muito mais". Isso é sempre muito gratificante. A ferramenta do Youtube é muito poderosa e capaz de moldar o público e seus interesses — mesmo que o nicho literário ainda seja o menor da plataforma. Todo avanço já é motivo de comemoração, nem que precisemos fazer um trabalho de formiguinha. Existem canais para todo tipo de público e gosto, e, ao meu ver, não existem pessoas que não gostam de ler, mas pessoas que ainda não descobriram o livro certo para elas.

(high five again, Victor!)



Você é, além de booktuber, designer. Como concilia a vida?

Victor: É uma loucura. Eu, normalmente, tento fazer todas as atividades durante o meu horário de trabalho, mas às vezes extrapolo e acabo indo até à madrugada. Em alguns dias eu estou compenetrado em desenvolver algum projeto de design, em outros preciso tirar uma pausa para gravar e editar algum vídeo pro canal. Meu único ritual diário é ter o período da noite reservado para a leitura. Minha rotina ainda é um pouco caótica e bagunçada, mas tenho tentado conciliar tudo da melhor forma possível.



Victor, o Toca da Leitura abraçou a missão de divulgar e promover autores brasileiros nos seus canais. Você já falou sobre autores nacionais do universo Geek em um dos seus vídeos e agora, pra fechar, gostaríamos que você recomendasse cinco autores nacionais do universo Geek que os leitores deviam conhecer!

Victor:
- Felipe Castilho (Ordem Vermelha: Filhos da Degradação)
- Gustavo Ávila (O Sorriso da Hiena)
- Mauro Lopes (Nova Jaguaruara)
- Ian Fraser (Araruama: O Livro das Sementes)
- Pedro Guerra (Como Eu Imagino Você)


Agradecemos imensamente ao Victor Almeida, que foi muito querido em conversar com a gente e esperamos que vocês tenham gostado tanto quanto nós! Acompanhem o Victor Almeida no canal Geek Freak e nas demais redes sociais:

👉https://www.facebook.com/thegeekfreakTV
😜https://twitter.com/victoralmeidap
😻https://www.instagram.com/victoralmeidap/
💥https://www.youtube.com/user/thegeekfreakTV


(Imagens cedidas por Victor Almeida)
(Esta entrevista foi cedida em Janeiro de 2019)




Mariana Mendes 💖

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Com a Palavra, Karla Keunecke

Olá Leitores!

Gente, a Karla Keunecke fez uma apresentação do Amaríssimo que preciso compartilhar aqui! E porque vocês deveriam conhecê-la? 

Well, além de ser uma pessoa adorável, a Karla, que é advogada de formação, teve dois blogs lindos até 2012 quando resolveu criar o canal Karla Keunecke onde faz vlogs maravilhosos com dicas de moda, viagens, restaurantes, filmes, séries, livros, dentro do seu estilo de vida, lindo e leve! Atualmente, a Karla, que é casada com o Luiz Paulo e é mãe de coração da Belinha, é empresária da Luxo Inteligente. 

Como a acompanho, havia enviado uma cópia do Amaríssimo no natal passado e na época, ela mostrou no vlog, comentou a respeito...mas agora, em meio a correria da vida de empresária, a Karla fez uma releitura e acabou fazendo uma indicação do livro, no vlog. 

Pra quem quer dar uma olhada nos perfis dela, são esses aqui:

@karlakeunecke
@luxo_inteligente
@karlakeuneckebrand
www.luxointeligente.com

Segue o vídeo! Obrigada, Karla! Amei!


https://www.youtube.com/watch?v=E3T1UEIWyKk



Mariana Mendes 💖

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Agenda

Olá Leitores!

Hoje quero apresentar a vocês a seção Agenda! 
Aqui, vou deixar você saber dos eventos relacionados ao Toca da Leitura, sejam encontros presenciais, as leituras conjuntas via whatsapp ou eventos de clubes literários e livrarias! 

E já começamos a seção com duas notícias:

Dia 15 de Novembro começamos a leitura conjunta de Crônica do Pássaro de Corda, de Haruki Murakami (que muita gente me indicou no insta). Temos um cronograma pronto para o livro físico, então, quem quiser participar, basta ir ao @tocadaleitura e me dar um Oi no direct, deixando seu telefone, para que eu possa adicionar você ao grupo, ok?  

E no dia 03 de Novembro, o Toca da Leitura reuniu os leitores de Teresina para um papo sobre Frankenstein, de Mary Shelleer. O evento aconteceu na Quitanda Santa Teresa e claro, foi um prazer! 
















Fonte: Pinterest



Mariana Mendes 💖



terça-feira, 19 de novembro de 2019

Sintoniza com o Toca!

Olá Leitores!

Bem, aqui vocês vão conhecer outra grande paixão e fonte constante de inspiração: a música! 
A tag 'Sintoniza" vai guiá-los através dos garimpos musicais que faço e sempre que possível, vou lhes contar algumas curiosidades sobre essas músicas. Prontos? Aí vamos nós! 

Bom, a primeira música que quero compartilhar com vocês faz parte de um capítulo histórico na vida de muita gente, que foi a chegada da MTV ao Brasil! O primeiro vídeo clipe que o canal postou foi Take on Me, do A-Ha e além de linda, a música marcou pela qualidade do vídeo, moderníssimo para a época, e pelo vocal superior de Morten Harket. Essa música ganhou o MTV Video Music Awards de 1986 e até hoje, aparece nos embalos de sábado a noite!




Take on Me - A-Ha
We're talking away
I don't know what I'm to say
I'll say it anyway
Today's another day to find you
Shying away
I'll be coming for your love, ok?
Take on me (take on me)
Take me on (take on me)
I'll be gone
In a day or two
So needless to say
I'm odds and ends
But I'll be stumbling away
Slowly learning that life is ok
Say after me
It's no better to be safe than sorry
Take on me (take on me)
Take me on (take on me)
I'll be gone
In a day or two
Oh, things that you say
Is it a life or just to play my worries away?
You're all the things I've got to remember
You're shying away
I'll be coming for you anyway
Take on me (take on me)
Take me on (take on me)
I'll be gone
In a day
Take on me (take on me)
Take me on (take on me)
I'll be gone
In a day

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Tricks and Tags!

Olá Leitores!

Nesta seção quero trazer alguns questionamentos sobre as dicas literárias feitas aqui, no intuito de motivar você a discutir sobre essas leituras e, quem sabe, expandir essa troca.

Nesse mês, como você deve ter lido, tivemos a resenha de Frankenstein, de Mary Shelley e quero compartilhar algumas questões que nortearam a nossa discussão.

A primeira coisa que o grupo se deteve foi na descrição do aspecto da criatura. Ficamos intrigadas em com o fato de Victor Frankenstein não perceber que estava criando algo tão sinistro e acabamos chegando a algumas reflexões sobre a ambição dele em querer dar vida a algo inanimado - sem necessariamente ter havido alguma tragédia que o motivasse. Se Victor tivesse perdido um grande amor e quisesse ressussitar o corpo, por exemplo, a questão seria mais compreensível...mas violar sepulturas e trabalhar num patchwork humano, por pura ambição de se destacar como cientista...poxa, Victor...tenhamos ética!

O segundo ponto que deteve a nossa discussão foi a perseguição da criatura ao Victor. Que coisa assustadora! Uma das amigas chegou a pensar que os encontros de Victor e o monstro eram parte de algum delírio dele, de tão alucinante que eram as cenas!

O terceiro ponto foi o papo franco entre a criatura e o Victor; cada um deu sua versão do momento em que a criatura nasceu e até aí, a gente tende a simpatizar muito com o monstro, porque ele teve uma carga de rejeição e sofrimento grandes desde o primeiro momento. No entanto, ele faz coisas e provoca situações que nos fazem questionar seu papel de vítima nesse tabuleiro. A gente se deteve muito nesse ponto, lendo algumas passagens do diálogo dos dois para tentar compreender crimes, culpas e circunstâncias.

E finalmente, discutimos muito sobre a complementaridade que encontramos entre Victor e a criatura. Essa parte da discussão foi longa, com alguns apontamentos sobre os traços psicológicos dos dois, dentre outras coisas.

E você? Já discutiu sobre esse livro? Viu algum aspecto que não mencionamos? Compartilha!



Mariana Mendes 💖




terça-feira, 12 de novembro de 2019

Dica Literária: Frankenstein, de Mary Shelley


Olá Leitores!

Tivemos o encontro do Toca da Leitura, em clima de Halloween, na charmosa cafeteria Quitanda Santa Teresa, e o livro escolhido foi Frankenstein, de Mary Shelley. A minha edição é da Darkside, cuja introdução explica como a história se originou e algumas curiosidades, como as introduções de duas das primeiras edições da história, além daquela diagramação caprichadíssima. 

O livro começa com as cartas escritas pelo capitão Robert Walton para sua irmã Margareth enquanto ele está ao comando de uma expedição náutica no Pólo Norte. O navio fica preso no mar congelado e nesse momento, a tripulação avista uma criatura estranha viajando em um trenó puxado por cães. Logo depois, eles encontram e resgatam o doutor Victor Frankenstein. Assim, Victor passa a narrar sua história ao capitão Walton, que a reproduz nas cartas a irmã. 

Victor Frankenstein é um jovem estudioso, interessado pelas ciências naturais, que acaba desenvolvendo um interesse obsessivo pela alquimia e temas como eletricidade, matemática e os mistérios da criação. Victor, então, passa a se dedicar a um projeto secreto e, através de muita pesquisa, acaba encontrando o segredo da geração da vida, tornando-se capaz de animar matéria. 

De cara, sabemos que o projeto do Dr. Frankenstein tem 2,5 m de altura e é feito com partes de corpos roubados do cemitério (👀). Victor se torna obcecado com a criação de um ser humano, isolando-se e sacrificando sua saúde e após anos de tentativas, obtém sucesso. Porém...

“...mas agora que terminara, a beleza do sonho se desvaneceu, e meu coração estava repleto de desgosto e horror. Incapaz de suportar o aspecto do ser que criara, corri para fora do cômodo e continuei a andar...”

Pois é. Tomado pela ambição de gerar vida, Victor acaba cego à monstruosidade de sua criação enquanto trabalha nela e ao vê-la finalmente animada, é tomado por um horror tal que acaba fugindo e abandonando a criatura recém-criada. Encontrado por seu amigo Henry Clerval, Victor, exausto e doente, fica sob os  seus cuidados pelos meses seguintes.

Uma vez recuperado, Victor recebe uma carta de seu pai relatando o assassinato de William, o seu irmão mais novo. Ao chegar em Genebra, onde sua família mora, é informado que Justine, uma criada muito querida da casa dos Frankenstein, é acusada do crime. Porém Victor está convencido de que o verdadeiro culpado é a sua criatura. Justine, no entanto, é condenada à morte e Victor, preso ao terrível segredo de ter criado um monstro que provavelmente assassinou seu irmão, é consumido pela culpa e resolve se afastar dali.

Numa escalada pelo Mont Blanc, Victor é encontrado por sua criatura (👀), que é surpreendentemente articulada. O monstro conta sua história, narrando como fugiu do laboratório de Frankenstein para uma floresta próxima, onde precisou se virar sozinho. A narrativa do monstro é muito comovente e quase convence o leitor de que está diante de uma pobre vítima. Maaas tenha prudência, leitor, que esse não é o caso.
A criatura conta suas desventuras e tentativas de se aproximar dos seres humanos, tendo como resultado constante a repulsa e agressão. A criatura torna-se amargurada e resolve procurar seu criador e sua família.
Ao chegar em Genebra, guiado por um diário de seu criador, a criatura encontra o irmão mais novo de Victor, William, e acaba matando o garoto e incriminando Justine. A criatura, que aparentemente aceita a rejeição do criador, exige que Victor construa uma fêmea para ele e assim, ele viverá longe de todos, em paz.
Cheio de culpa mas contrariado, Victor concorda com o pedido. De volta a Genebra e esperançoso de que o pesadelo vai acabar, o cientista torna-se noivo de Elizabeth, e parte com seu amigo, Henry Clerval para a Inglaterra, a fim de cumprir a sua promessa.
Entretanto, ele muda de ideia ao ver sua nova criação, agora uma fêmea, tomando forma, temendo criar uma raça de monstros. Victor decide que ele tem que arcar com as consequências de seus atos e assim, destrói a criatura incompleta. 
Porém, o monstro testemunha o ato e jura se vingar, começando sua empreitada assassinando Henry Clerval. Abatido, Victor acaba se casando com Elizabeth mas na noite de núpcias, o monstro a ataca. Com a notícia da morte de Elizabeth, o pai de Victor adoece e morre em seguida.
Jurando vingança, o criador passa a perseguir a criatura, que o leva através de uma longa caçada em direção ao norte, seguindo pelos mares congelados, onde eventualmente são avistados pelo capitão Walton e sua tripulação. 
Uma vez resgatado e tendo contado sua infeliz história ao capitão, Victor, bastante doente, acaba morrendo. O capitão Walton, por sua vez, flagra a criatura no leito de morte de Victor Frankenstein, pranteando seu criador. Assustado, Walton ouve da criatura que seus crimes terminaram com a morte de Frankenstein, prometendo que dará paz aos seres humanos. 
Bom, aqui a gente começa a analisar a história sob algumas luzes.
Frankenstein é uma história complexa, considerando a época em que foi escrita e por quem foi escrita. Embora Mary Shelley tenha se esquivado de dar detalhes sobre ambientes e detalhes que provavelmente não conhecia com propriedade, como o laboratório de Victor Frankenstein, por exemplo, explora com maestria o duelo entre luz e sombra na caracterização dos personagens. 

Permita-me usar dois termos da Psicanálise de Jung, Sombra e Persona, para explorar esse duelo de claro-escuro; Sombra e Persona representam, respectivamente, aquilo que não seria socialmente aceitável e portanto fica escondido, muitas vezes inconscientemente, e a máscara que vai a público ou seja, a maneira como nos apresentamos. Podemos criar uma relação entre esses conceitos e a forma como Victor e sua criatura se complementam para entender nuances interessantes que Shelley criou.

Victor é um homem descontente, introspectivo mas que guarda um desejo gigantesco de ser reconhecido por algo grandioso, e que, de fato, acaba gerando, em segredo e por meios muito questionáveis, uma criatura marcada do início ao fim pela tragédia e pelo medo, uma vez que é privada da compaixão dos seres humanos desde seus primeiros minutos de vida. E aqui, a Sombra de Victor se concretiza na figura do monstro criado, ficando tão exposta que até ele mesmo se assusta e foge. 

E um detalhe importante de ser partilhado aqui é que a autora nunca chama a criatura de Frankenstein; essa denominação à criatura só viria a partir das adaptações cinematográficas, muitos e muitos anos depois, pelo entendimento geral de que a criatura seria uma espécie de "filho" de Victor e portanto, merecedor de ser identificado pelo sobrenome de família. Mas originalmente, nem nome a criatura recebe, durante toda a história! 

A criatura, com uma consciência parcial, utiliza-se da dinâmica de rejeição para se vingar de seu criador, Victor, que se sente culpado pelas mortes das pessoas que lhe são próximas. A lei máxima da alquimia se apresenta nessa relação cíclica da mortalidade: o cientista gera vida a partir da morte e, em troca, as vidas que tanto preza são tiradas de seu convívio. Quando Victor se apercebe dessa dinâmica, ele compreende que ambos terão que terminar juntos, possivelmente mortos e não mede esforços para caçar sua criatura, o companheiro por quem Victor tanto ansiava e que se mostra cruel, escapa do controle e age sem que ele perceba, vigiando-o, perseguindo-o e assassinando pessoas de seu afeto. 

É bem verdade que a autora nos leva a ter uma certa simpatia pela criatura; quando, por exemplo, ela descreve a sua perplexidade diante da própria imagem:

“[...] Nada sabia sobre minha criação e meu criador...[...] Além disso, era dotado de um físico hediondo e repelente. Eu nem sequer era da mesma natureza que o homem.”

“[...] E que terror senti quando me vi refletido numa poça d’água! A princípio, recuei assombrado, incapaz de crer que aquela era minha imagem e, quando me convenci de que era na realidade o monstro que sou, fui assaltado pelo desespero e senti-me extremamente mortificado.”

Porém, o buraco é mais embaixo. Temos outro ponto importante a considerar aqui: a criatura é impossibilitada de se utilizar de sua Persona para angariar simpatia e aceitação social, uma vez que seu aspecto físico interfere negativamente na leitura social dos indivíduos que vai encontrando. Barrado em seu direito de amar e ser amado, ele compreende que apenas com um ser de igual aspecto poderá se relacionar. Quando ele pede para que Victor crie um ser do sexo oposto, seu desejo é de que haja uma identificação recíproca, mas esse pedido, aparentemente justo, é uma armadilha para Victor: e se o monstro não for correspondido por essa fêmea? Terá que criar outra? E se houver entendimento entre os dois, o que poderá nascer dessa união? 

Considerando o pior cenário e as probabilidades terríveis do pedido, Victor desiste de dar  à sua criatura a coisa que ela mais deseja e esta, sem chance de mostrar seu interior generoso e terno, e agora, sem perspectiva de ter uma companheira, entrega-se à sua Sombra. A criatura assume a monstruosidade que os outros dizem que ele tem, uma vez que só enxergam a sua deformação e parte para a vingança. E aqui, percebemos a ardilosidade de suas ações, através da forma como ele encurrala Victor e o atrai para a morte. 

Essa lógica usada pela autora me fez lembrar muito da lógica usada em Joker, estrelado por Joaquin Phoenix recentemente. Quem já assistiu ao filme e leu Frankenstein vai encontrar algumas pontes interessantes. Não vou me espalhar muito por aqui, uma vez que o filme ainda se encontra em cartaz e muita gente ainda não assistiu, mas daqui a um tempo, vamos conversar sobre esse ponto, ok? 

Leitores, Frankenstein é, enfim, um romance sobre duas vidas arruinadas, uma vez que não encontram, nas provas sociais, um meio para chegarem à luz de seus desejos. É um LIVRÃO! Sugiro muito que o leiam.

Gostaram da resenha? Compartilhe os seus pensamentos!

Um abraço e até a próxima!




Mariana Mendes 💖


quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Inspiração

Olá Leitores!

Apresento a vocês a seção que vai explorar fotos de pinturas, da esculturas, anúncios, enfim, de informações que nos enriquecem e nos inspiram. Quem trabalha com criação sabe o quão importante é se alimentar de arte...e eu sempre amei garimpar essas fontes, seja em livros, visitas a museus, sites, peças de teatro, enfim, universos que se conversam e se complementam. Quem me conhece sabe que eu amo pesquisar tudo o que se refere à História, Literatura e Arte e aqui vou poder compartilhar com você um pouco dos meus garimpos.

Para hoje, escolhi uma foto que tirei numa visita ao Oceanário de Lisboa, algum tempo atrás, durante uma exposição temporária do trabalho do genial Takashi Amano, chamada "Florestas Submersas".

O  ambiente projetado para a exposição ajudou a dar o clima de quietude e paz, tanto na iluminação, indireta e mínima, quanto na sonorização, uma batida bem suave, quase um pulsar. Poder ver essas formas submersas realmente faz a gente se transportar!

Para quem não conhece, Amano, falecido em 2015, foi fotógrafo, designer e aquariofilista. Olha que trabalho incrível:






As formas, as cores, as sombras e os movimentos...gente, isso é de tirar o fôlego! Agora imagina um aquário com 40 metros de comprimento e 160 mil litros de água doce, com 46 espécies de plantas aquáticas formando uma complexa floresta tropical!

Eu amei conhecer o trabalho de Takashi Amano. E você? Já conhecia? 


Foto: acervo pessoal




Mariana Mendes 💖

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Agendas...


Você já fez agenda? 

Fazer agenda se tornou um hábito a partir dos meus 12 anos, momento em que a vida começou a ter umas novidades. Despedidas de velhas amizades, novos desafios escolares, novas escolas e novas amigas, a mudança das brincadeiras e do meu vestuário, festinhas, garotos, receitas caseiras de hidratação para cabelo, a nova geração de animais que estavam nascendo sob os meus cuidados...vish era muita mudança! Aí surgiu a grande, grandíssima sacada: um diário.

E de onde veio a inspiração? De um quadrinho da antiga turma da Mônica, onde as personagens Tina e Pipa conversavam sobre ter um diário e para quê ele servia. E voilà! Pedi e ganhei de aniversário minha primeira agendinha, de espiral, com capa  cheia de coraçõezinhos coloridos sobre o fundo prateado.

A partir daí meus amores...era um tal de escrever que não se acabava mais. E recortar. E colar. Fiquei viciada em cola, tesoura e agenda. Era pedaço de revista Capricho colado em tudo que era página, desenhos, adesivos, poemas, letras de música, bilhetes das amigas, fotos de atores bonitos, flores secas, papel de bala, palito de picolé, fotos dos meus pets, papel de carta, pedacinho de embalagem de presente, brinco adesivo, bottom pregado,  beijos para registrar as cores dos meus primeiros batons, recortes de looks que eu queria usar, relatos de viagens, saches promocionais de perfumes da Boticário, ingressos de cinema e teatro, palitos com guarda-chuvinhas coloridos e metalizados, as tretas, tédios, divagações, diversões e os relatos novelescos que as paqueras rendiam...chegava julho e a agenda não fechava mais! Ali começava também o exercício que se tornou hábito; pensar, refletir e registrar sentimentos e conversas, as sensações que livros, filmes e músicas produziam, situações cotidianas alegres e tristes que mereciam ser registradas. Tudo, enfim, que me emocionava e ensinava ficava registrado nas agendas.

E o tempo foi passando. Hoje, quase tudo sai da internet, não há revistas para recortar, mas é bem mais fácil encontrar uma letra de música ou um trecho de poema. Também temos centenas de vídeos mostrando como se cria um “bullet jornal”, como se customiza papel, como se enfeita, como se faz lettering...as coisas estão sofisticadas atualmente. As agendas se modernizaram e custam uma fortuna.

Mas gente, qualquer caderno pode render uma agenda formidável. Customização é a alma do negócio e aconteça o que acontecer, ele vai ficar a sua cara, o que é o melhor de tudo. Sua história, preto no branco, com todas as suas enroladas, pequenas vitórias e os amadurecimentos. Vai estar tudo ali.

E um dia, tudo isso vai ser passado. Vai ser interessante ler, por um tempo. E talvez chegue o momento em que você queira se livrar delas. Ou vai decidir ter um canto especial para guardar suas agendas. De um jeito ou de outro, vai ser bom. Vai ser no seu tempo. E seja como for, como vai ser maravilhoso ver como você mudou, o quanto aprendeu, como você mudou!

Um novo ano vêm aí. E uma das alegrias que tenho é começar minha agenda nova no réveillon, quando todo mundo foi dormir. Ainda haverá alguém estourando fogos, em algum lugar. Haverá cheiro de champanhe e vinho pelo ar. Eu estarei escrevendo, se Deus quiser, esperando, grata e ansiosamente, que a minha nova agenda não feche quando Julho chegar!


Mariana Mendes 💖