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quinta-feira, 26 de março de 2020

Entrevista com o Escritor Eduardo Krause

Olá leitoras!


Esse mês temos um super bate papo com Eduardo Krause, autor dos maravilhosos Pasta Senza Vino e Brava Serena (ambos já foram resenhados no @tocadaleitura). 

Eduardo Krause nasceu em 1980, em Porto Alegre. Publicitário formado pela UFRGS, se mudou para a Itália em 2011, onde viveu por um ano e escreveu seu primeiro romance, lançado em 2014 pela editora Dublinense: Pasta Senza Vino, uma história deliciosa de amores e sabores ambientada entre Florença e Rio de Janeiro, e que já em 3ª edição. Com a ótima receptividade deste, em 2018 veio o 2º livro, também pela Dublinense: "Brava Serena", um tributo a Roma, aos vinhos e ao ator Marcello Mastroianni, estabelecendo a obra do autor como referência em literatura ítalo-brasileira. 

Além de papear sobre livros e a bela Itália, temos notícias em primeira mão sobre a futura adaptação cinematográfica de Brava Serena! 




1) Eduardo Krause, como você se tornou escritor?



Nunca quis ser escritor. Já quis ser chef de cozinha, designer, arquiteto, cineasta... se voltasse 10 anos no tempo e contasse pra mim mesmo que me tornaria um, jamais acreditaria. É tudo culpa daquele ano em que morei na Itália, quando em uma noite de 2011, após um jantar regado a muito vinho, fui atropelado pela história de Pasta Senza Vino e não tive outra opção senão pegar o laptop e começar a escrever, sentado na cama, para tentar pegar no sono. Adormeci com o laptop no colo. E quando acordei, nunca mais parei de escrever. 

2) O seu primeiro trabalho é ambientado na Itália, onde você viveu por um ano. Como a experiência ajudou no processo criativo do livro?




Como já disse, a Itália causou o despertar do escritor em mim. Na literatura médica, existe o chamado Mal de Stendhal, em homenagem ao famoso escritor francês. Em um de seus relatos de viagem, ele conta que, visitando Florença, justamente a cidade onde morei, ele teve vertigens diante de tanta arte e beleza. Gosto de dizer que tive esse mal. Mas em em vez de desmaiar, desatei a escrever. Não sei se é verdade, mas é chique de se dizer. E se tem uma coisa que aprendi com os italianos é que uma história não precisa ser verdadeira, desde que seja bem contada.

3) O seu personagem principal, Antonello, é um "marpione” – um especialista em cortejar mulheres - e ele usa isso inclusive para conseguir clientes para o restaurante onde trabalha. Um dia, porém, ele leva um senhor xeque-mate sentimental. Existe mesmo amor a primeira vista?


Existe. E falo com conhecimento de causa, pois me apaixonei à primeira vista pela Daniele, minha esposa. Sempre digo que lembro do instante em que coloquei os olhos nela pela primeira vez com tal riqueza de detalhes que parece que aconteceu ontem, apesar de já fazer 7 anos. Mas quando se trata de amor, valem todas as vistas, apesar dele ser notoriamente cego.


4) Pasta Senza Vino traz muitas expressões e palavras em italiano, que reforçam o cenário onde Antonello está e pertence. Como foi recriar uma ambientação italiana que fosse palatável ao leitor brasileiro? 

Esse é um cuidado que tenho sempre: utilizar expressões italianas que funcionem até para quem não fala italiano. Quando a frase é mais complexa, costumo deixar a tradução surgir na sequência do texto, de forma sutil. É um trabalho que requer atenção pra não cair no caricato. E mesmo não morando mais na Itália, assisto muitos filmes italianos, para manter a musicalidade da fala deles em minha mente.


5) Antonello tem sua carga de tragédias familiares mas ele vive de modo bem hedonista. E ainda assim, a medida em que a história avança, ele vai mostrando tantas facetas! Houve um muso inspirador para a composição do Antonello? Como foi o processo? 

Quase todos os meus personagens dos meus livros são inspirados em amigos ou parentes. Mas é engraçado que o Antonello não seja inspirado em ninguém. É um verdadeiro amigo imaginário. Nas primeiras versões, ele teve outros nomes, como Marcello e Giovanni. Até que um dia, passeando por Florença, vi um dos meus professores de italiano de mãos dadas com a recepcionista do curso. O nome desse professor era Antonello. Bianchi era a marca da minha bicicleta. Daí pra Antonello Bianchi foi inevitável.


6) Apesar da alegria interior de Antonello, o tempo lhe cobra um amadurecimento amargo...Você acredita que uma situação mal resolvida na vida possa dar um sabor ruim a vida inteira? 

Não diria sabor ruim. Diria só sabor. Porque é impossível viver sem amores ou dores mal resolvidas. A vida não se resolve nunca e quando a gente morrer não vai ter uma conclusão antes de sair de cena. Então por mais que certas histórias não tenham sido como a gente quis, acredito que é a vivência dessas tristezas que tornam as alegrias mais doces. Por isso que gosto de contar coisas engraçadas de maneira melancólica, e coisas melancólicas de maneira engraçada. Esse é o tempero da vida.


7) Uma vez, um sábio escritor disse: "Pasta senza vino è come un bacio senza amore." ("Massa sem vinho é como um beijo sem amor"). Queremos comentários a respeito desta máxima.

A primeira vez que vi essa frase foi na parede de uma tradicional casa de massas de Porto Alegre, muitos anos atrás. Então, quando fui pra Itália, essa era a única frase que eu sabia dizer em italiano. Lembro que, no primeiro dia de aula em Florença, o professor pediu para cada um escrever uma frase em italiano no quadro. A minha foi essa e acabei sendo lembrado por ela durante todo o curso. O fato é que tanto massa sem vinho quanto beijo sem amor também podem ser coisas muito boas. Mas a harmonização ideal, da massa e do beijo, é a que está contida na frase.


8) Leitores do Toca informam ao autor: queremos uma história de amor com uma musa chamada Daniele e queremos casamento na Toscana! Seremos, um dia, atendidos? 


Quem sabe? Quero escrever muitas histórias, sempre com essa temática ítalo-brasileira. Também tenho planos de escrever uma história sobre o Ótimo, meu cachorro. Quero escrever sobre tudo o que eu amo. O problema, talvez, de contar minha história com a Daniele, especialmente sobre nosso casamento na Itália, é que vai me faltar talento para expressar a beleza daqueles dias. 

9) Seus stories são fabulosos, embora você se incomode com a excentricidade deles, vez ou outra. O mar tecnológico açoita a criatividade dos bons autores ou dá pra conviver com algum charme? 

Adorei a pergunta, especialmente o "açoita". O Instagram é uma ferramenta divertida, boa para conhecer ou ser descoberto por leitores. Quanto aos stories, tento rir das minhas desventuras. No fim das contas, os que saem tortos ou errados acabam sendo meus maiores sucessos de público. Acho que as pessoas se identificam. 


10) Durante a leitura de Pasta Senza Vino, o leitor é atacado por imagens gastronômicas muito cruéis o que me fez lembrar de Frances Mayes, autora de Sol sob a Toscana, que compartilha receitas variadas, entre um momento ou outro de suas histórias. Afinal, podemos ter esperanças de que teremos uma receita krausiana de pasta? 


Gosto muito da Frances Mayes. Pra quem gosta dela e dos meus livros, também recomendo ler Marlena de Blasi, que tem uma temática semelhante, recheada de perfumes e sabores italianos. Também recomendo Elena Ferrante e Ítalo Calvino, italianos que gosto muito. Mas divago... respondendo a pergunta, tenho várias receitas que invento na hora e uso a Daniele como cobaia. Mas nunca parei pra anotar... taí, boa ideia: quando eu lançar meu livro krauseoculinário, dividirei os royalties com a corporação Toca da Leitura. 

11) E sobre a notícia do Brava Serena ser adaptado para o cinema, como você recebeu a notícia? Já existem planos para a adaptação? Imaginei a Deborah Nascimento como Serena, durante a leitura, mas sem pressão. Isso nem é sugestão, a sério. É só...um compartilhar imagético que vem ao caso.


"Tá de pé?". "Tô". "Então senta". Assim que começou a ligação do meu editor pra contar que Brava Serena estava tendo direitos negociados com uma produtora de cinema do Rio. Claro que já sonhei com isso, mas quando acontece é tão surreal que a gente nem sabe como comemorar. O que posso dizer é que envolveu muito vinho, por vários dias. Quanto ao projeto, recém está começando a roteirização. Então, ainda estamos na fase dos sonhos. Adorei a sugestão da Deborah Nascimento, ela tem olhos bem serenísticos. Mas, pessoalmente, acho que ainda não conheço a atriz que faria a Serena. Gosto de pensar que pode ser a grande estreia de alguém.

12) O olhar cinematográfico para as produções literárias brasileiras finalmente cai sobre uma obra mais contemporânea. Você enxerga nisso um potencial para que outras produtoras observem mais os novos autores? Será que Brava Serena vai influenciar esse movimento? 


O momento para a cultura no Brasil é recessivo, vivemos sob um governo que exalta a truculência e prefere tratar os meios acadêmicos e artísticos como gastos, não investimentos. Mas a produção cultural nunca para, por pior que seja o cenário. Novos artistas surgem o tempo todo e plataformas como Netflix e produtoras de cinema independentes despontam em busca de novos conteúdos. Sou otimista quanto a tudo isso, mas não sei se Brava Serena pode influenciar um movimento. Nem penso nisso. Só quero que esse projeto seja feito com o mesmo amor que coloquei na escrita do livro. O resto, surge ao natural. Acredito que a arte precisa vir de dentro antes de pensar lá fora.





Agradecemos ao Eduardo Krause pela gentileza da entrevista e material disponibilizado e torcemos para que Brava Serena chegue aos cinemas o mais brevemente possível! E que venham mais livros!!! 


Beijos, 

Mariana Mendes 💖

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