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terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Questões sobre Os Catadores de Conchas

Olá pessoal!

Com a discussão sobre Os Catadores de Conchas que tive com o clube de Leitores da Livraria Leitura, há uns meses, pude tirar algumas coisas particularmente interessantes que vou compartilhar com vocês, na esperança de que lhes seja útil em alguma discussão sobre o livro.

Bom, eu dividi a história entre a vida da Penélope jovem e a Penélope idosa; uma é filha de um casal de artistas (mas não exibe a mesma personalidade vibrante de seus pais, ao contrário, ela parece apenas uma expectadora do que eles fazem, dizem e produzem) que sobrevive a II Guerra (e nesse momento, a dinâmica da casa de Penélope muda completamente), faz um casamento estranho (ela não está perdidamente apaixonada, mas apenas se acomoda na situação que lhe é perturbadora e quando os filhos chegam, ela se distancia deles ainda na primeira infância, como se sua falta de amor pelo pai deles fosse justificativa para sua falta de sentimento) e a outra é idosa, vive sozinha por opção mas se preocupa com os filhos adultos, que se tornaram pessoas egoístas e estreitas. 

A perspectiva da Penélope jovem é muito diferente da Penélope idosa, porque seu mundo está atravessando uma guerra, várias restrições são feitas em sua vida, a configuração familiar muda para pior. A Penélope idosa, ao contrário, parece muito satisfeita com a vida que leva, entre receitas de tortas, chás e jardinagem. Porém, aqui entram os filhos dela, Nancy, Olívia e Noel, cada um com defeitos de personalidade tão realçados que chegam a ser caricatos. 

É interessante observar como eles se agrupam e separam uns dos outros, conforme os próprios interesses. A estrutura familiar de Penélope é tão estranhamente palpável em tempos de falta de empatia e generosidade que chega a ser desconfortável a falta de pirlimpimpim da autora em resolver as tretas familiares com uma solução bonita e positiva. Essa mágica não acontece. 

Penélope e o leitor são obrigados a lidar com esse fato: Nancy e Noel, principalmente, são incapazes de enxergar a mãe ou a relação que deveria existir entre eles. Olívia é quem mais se aproxima - ainda que de modo meio vago - ao que a mãe esperava que acontecesse com os filhos. 

Os Catadores de Conchas dão uma discussão fantástica pois podemos explorar valores familiares de várias maneiras, além da perspectiva de fechamento de ciclo de vida de Penélope, que é muito emocionante (e em parte porque esse fechamento se torna possível graças a dois elementos estranhos mas que se tornam familiares: Antonia e Danus. Ela é filha de um ex-namorado de Olívia e acaba de ficar órfã. Sem rumo, a jovem acaba indo passar um tempo na casa de Penélope, onde o novo - e misterioso - jardineiro está trabalhando. 

O livro tem o poder de nos fazer refletir sobre as relações familiares e sociais, lembrando que o fechamento do ciclo da vida chega para todo mundo e o final pode depender da nossa habilidade - e disposição - para ser mais ou menos feliz. Mas não podemos controlar o outro. Nem sempre conseguimos mudá-lo. Sobra ter paciência, respeito e a torcida para que os milagres aconteçam. 



Beijos, 

Mariana Mendes 💖








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